julho 18, 2008 Sheep go to Heaven – CAKE (Rafael Monteiro)
Hoje é o dia da vingança de George. Ele decidiu isso enquanto assistia TV comendo pipoca e bebendo coca-cola. Estava entediado, pois a vida dele era um saco. Haviam lhe prometido cheerleaders gostosas, mas ele não conseguia comer ninguém, nem as góticas que se vestiam como vadias estavam interessadas nele. Considerava-se um sujeito inteligente, mas ninguém parecia valorizar isso: tudo o que importava era ser popular, ser bom em esportes. George sempre seguiu a cartilha, fez tudo o que sempre lhe mandaram, só que ainda assim ninguém o notava. Havia cansado de ser um nada ambulante.
Comprou uma metralhadora automática pela internet usando o nome do pai. Demorou alguns dias, mas finalmente chegou. Esperou pelo baile de formatura, para o qual ninguém o chamou para ser par. Era o grande dia para todo estudante, todos estariam felizes e usando suas melhores roupas. George resolveu que faria este dia ser realmente inesquecível, à sua maneira.
Uma bandinha de garagem tocava pop-rocks que tocam na rádio para todos dançarem. Foi quando George entrou no salão, vestindo sua camisa do Justiceiro. Apertou o gatilho com gosto, fazendo seus colegas de classe virarem corpos espalhados pelo chão.
Susana, aquela vagabunda que lhe recusou um beijo: morta. Ralph, o gostosão que ria da cara de George: morto. Rita, que uma vez disse que tinha pena dele: agora vai pro caixão. Mister Sullivan, o professor de educação física que o humilhava nas aulas: virou cadáver com muito gosto.
George já havia produzido uma dúzia de cadáveres quando um policial, pai de uma das alunas, apareceu. Sacou sua pistola e deu um tiro certeiro no braço esquerdo de George, que caiu no chão chorando feito uma menininha. Ele só conseguia pensar que mais uma vez o destino o atrapalhara, estragando o que prometia ser o melhor momento de sua vida.
George foi preso e condenado à morte. Sua família o abandonou e nunca recebeu visitas na cadeia – na verdade só recebeu uma, de um jornalista que filmava um documentário. Foi só no presídio que descobriu o que era sofrimento de verdade: era currado, espancado e humilhado constantemente por todos. Era conhecido como “Pussy Girl” pelos presos.
Depois de alguns anos, George se arrependeu profundamente do que havia feito. Mas já era muito tarde: a data de sua injeção letal já estava marcada. Antes de morrer, pensou que ao menos conseguiria descanso.
Contudo, havia se enganado. Após morrer, a primeira coisa que viu foi o Diabo em pessoa. Era um cara fino e educado, pensou George. Não havia fogo eterno nem pessoas sendo torturadas, o Inferno era apenas um lugar calmo e bucólico. Foi quando percebeu onde realmente estava: em uma típica High School americana.
– Meu nome é Lúcifer, sou o diretor da escola. – disse o Diabo. – Asseguro-lhe que será aqui onde passará o resto da eternidade, e terá aulas de educação física todos os dias. Aproveite!
George então se ajoelhou e chorou compulsivamente. Foi quando os demônios usando uniformes de futebol americano e roupas de cheerleaders se reuniram em sua volta, rindo de sua cara e o chamando de “chorão” e “mulherzinha”.
- 10 comments
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Permalink # Marcelo said
Hehehe, Rafa, seu sádico ! Muito legal, não duvido que isso acontece com os caras que fazem os massacres lá nos States. Uma visão bem legal do clip. Gostei, parabéns !
Permalink # Rafael "Lupo" Monteiro said
Valeu, Marcelo! Achei que seria um castigo perfeito pra esses malucos 🙂
Um abraço!
Permalink # Romeu Martins said
É, taí uma vingança verdadeiramente diabólica, hehe
Permalink # Marco Alexandre said
Ah, que saco,”bem a sua cara” e “verdadeiramente diabólico” já são coisa batida. O que dizer? Báh, Lupo. Ducacête!
Permalink # Rafael "Lupo" Monteiro said
Romeu e Marco, valeu pelos comentários. Se o Diabo em pessoa gostou, já me dou por satisfeito 🙂
E relendo meu comentário acima parece até que escrevi com raiva, mas não foi o caso.
Permalink # Ludimila said
Lupo, gostei, achei bem a sua cara e verdadeiramente diabólico.
Citando o mestre William Blake:
“O idiota não entrará no céu, por mais santo que seja”. E “é preciso livrar-se da santidade; é preciso ter inteligência”.
Permalink # Rafael "Lupo" Monteiro said
Valeu, Ludi! E ainda tive direito à citação do Blake…
Mas essa história de “bem a sua cara”… Quero deixar claro que não quero roubar o lugar do Romeu no Inferno! 🙂
Permalink # Helena said
hehehe malvado e divertido como eu gosto. Seu inferno awl é aterrorizante – lembrei de um filme da família Addams em que os rebentos iam para um acampamento de verão – uma visão dantesca com uma mulher histérica acordando todo mundo cedo para tomar banho num lago gelado e outras coisas detestáveis de gente sadia.
E lembrei também da citação de Mark Twain: prefiro o céu pelo clima e o inferno pela companhia… hehe
Parabéns, textos que geram lembranças e discussões são sempre bons
Mhellraiser
Permalink # Helena said
Ah, e adorei o clipe!
Permalink # Rafael "Lupo" Monteiro said
Valeu, Maria Helena! Acho que concordo com o Mark Twain 🙂