março 4, 2018 Novidade Drops of Jupiter – Train (Ana Cristina Rodrigues)
Base Estelar Luna 1 – Aposentos 1145 – KM
25 de Abril de 2125, 50o. Da Exploração
Julian,
Meu querido amigo…
Recebi sua última comunicação. Estou feliz por saber que decidiu casar-se com Alanna. Sinceramente. Acho que você tinha toda a razão. Ainda gosto…não, ainda amo você, como naquele dia em que nos despedimos na Base Estelar, quando finalmente confessei meus sentimentos e a minha vontade de ser sua mulher. Você disse que também gostava de mim, mas a distância entre a Terra e Júpiter impediria, que não deveríamos canalizar sentimentos em rótulos. Quando eu voltasse, iriamos decidir o que fazer.
E agora estou de volta à atmosfera artificial da Base, depois de ter ido às luas de Júpiter. Foi uma viagem longa, onde conheci minha alma. Onde eu vi o que tinha perdido.
Não poderia imaginar uma vida sem galinha frita nos imensos baldes que dividíamos nos sábados a tarde, na frente da holovisão. Ou em que não existissem nossas conversas de cinco horas de holofone, quando você foi estudar Tecnologia Espacial, e aquele café com leite de soja na Cafeteria da sua universidade, o melhor latte que eu já tive…Em que não tivéssemos dançado juntos pela primeira vez, no final dos Estudos Elementares.
Sem amor, orgulho…ou meu melhor amigo, sempre ao meu lado, mesmo sabendo que eu estava errada.
E ela existe. Não vale o esforço, mas existe.
Os ventos de Júpiter tiraram-me dos meus pés. Flutuei por longos minutos, dançando no dia difuso formado pela claridade de suas luas. Minha cabeça voltada para a Via Láctea, naveguei por detrás do Sol, vi as luzes que se apagavam. E você estava certo. O céu é superestimado.
Não, não acho que você seja um covarde, com tanto medo de voar que jamais se atreveria a pousar e depois decolar de novo. Você fez a escolha certa. Para que uns possam ir, outros precisam ficar no solo.
Ouvi durante toda a viagem o holodisco com obras escolhidas de Mozart…lembrando de você. E vou responder as suas duas últimas perguntas.
Senti sua falta, lá fora, procurando por mim mesma… A sua ausência fez-me perceber o quanto eu estava sozinha… o quanto eu precisava de você.
Quinze anos. E ainda lembro do seu sorriso quando voltei do treinamento na Lua, dizendo que eu havia trocado as estações, agindo como o Verão, caminhando como a chuva… ouvindo como a Primavera e falando como Junho.
Dentro de uma semana, iremos partir para a Nuvem de Magalhães. Uma nova galáxia, onde eu poderei dançar de novo. Amo mover o corpo com a música, pois cada passo traz um pouco do que vivemos de volta para mim, do momento da primeira dança e do único beijo. Que carregarei comigo para outra galáxia comigo, junto com as gotas de Júpiter que trouxe como presente…e prova do meu amor.
Porém, agora tem a Alanna. E digo. Sejam felizes. Sempre que eu olhar na direção do Sol, pensarei em vocês.
Sempre sua,
Karmina.
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maio 6, 2010 Runes to my memory – Amon Amarth (Heitor V. Serpa)
RENASCER
Sobre minha cabeça vejo o sol nascer
Infinitos raios de esperança
A glória dos deuses posso perceber
Runas serão escritas em minha lembrança
Um combate cruel se seguiu
Muitos eu ceifei, sobre minha montaria
Mas quando meu escudo enfim caiu
Só pude pensar na minha família
O quão ausente eu era, graças ao meu espírito de guerra
Nunca pude dizer ao meu filho que o amava
Não queria que ele seguisse meus passos
É triste abandonar tudo que lhe importa
Sabendo que uma hora não haverá volta
Não há glória na morte, como cantam os bardos
Percebi ao ver o rosto de minha amada esposa
Reprovando-me em lágrimas, decepcionado
Queria tanto dar-lhe a devida atenção, conforme merecia
Mas agora uma flecha cruzou-me o peito, eu não viveria
Coberto de feridas, sob meu próprio pranto vejo que nada me resta
Nenhuma valquíria veio me buscar, não há glória em minha queda
Ao meu redor a matança continua, gritam como se não houvesse outro dia
Impropérios, lâminas e sangue, desaparecem ao passo em que perco a vida
Ouço apenas meu filho chorar, enquanto minha esposa treme ao falar
“Eu lamento querido, mas seu pai não irá voltar”
Imerso no frio de meus próprios pecados, afogado em lamúrias sinto meu corpo perecer
Mas um milagre acontece, vejo sobre minha cabeça o sol nascer
A princípio ofuscado, sinto todos os cortes se fecharem
O calor invade meu interior, sinto as forças se renovarem
Olho minha esposa sorrir, e meu filho vêm até mim, alegre de me ver
“Eu te amo pai, estaremos sempre com você”
Vou junto deles em direção à luz, sem nada para me prender
Infinitos raios de esperança
A glória dos deuses posso perceber
Atravessando a ponte para Asgard, deixo para trás minha única honra
Runas serão escritas em minha lembrança
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julho 19, 2009 Sophisticated Lady – Duke Ellington (Maria Helena Bandeira)
“And when nobody is nigh, you cry,
You cry, you cry.” ( Sophisticated Lady )
Quando Billie ficava absurdamente triste se agarrava aos baseados.
Nós todos fumamos, em épocas diferentes, junto com os dry martinis de Marina, ou as cervejas de Mimi. Eu me embebedava de vinho barato e me via, a música soluçando de beleza.
Billie preferia o uísque paraguaio. E quando estava absurdamente triste se apegava aos baseados e tocava Sophisticated Lady para Marina.
Ela não entendia a homenagem. Nunca considerou a hipótese de dar a ele um pequeno pedaço de seu corpo alvo. Marina estava nos Cigarette Blues até surgir o empresário que iria tira-la do anonimato das nossas estradas rotas.
Com seus cabelos dourados e olhos azuis, fazia uivar os rudes caminhoneiros, mas nunca percebeu sua presença. Era como uma estrela, distante, abstrata, intocada por toda aquela sordidez.
Billie percebia isto e às vezes ficava absurdamente triste e fumava mais baseados do que o normal.
Uma noite, em São Tomé da Serra, depois de um espetáculo lancinante de guitarra – Sophisticated Lady para Marina – antes dos banheiros e do café, encontrei Billie no camarim, rosto vermelho, olhar brilhante, vago. Tive certeza
– Você anda cheirando?
Ele me olhou irritado, não respondeu.
– Vi o Mejicano com você, no intervalo…
– Deixa de ser babaca, falou? Cuida da droga da sua vida!…
Eu fiquei calada. Porra, não era da minha conta, era? Que se danassem, ele, Marina, Mimi e toda a população desta merda de Terra redonda.
Nunca mais toquei no assunto.
Éramos cometas em cada uma daquelas cidades escondidas, retornando um pouco mais velhos, mais gastos, mais amargos, derramando nosso sangue blues pelos tristes bares das periferias decadentes. Como as cortinas gastas e os falsos cristais do lustre – um cenário ultrapassado.
A polícia pegou Billie numa batida idiota – Colette, o travesti velho, deu uma navalhada em Luigi, seu amante jovem. O sangue e a gritaria histérica atraíram a atenção dos Homens. Eles deram uma vistoria nos camarins e acharam o pó.
Fui visitar Billie na cadeia.
Abatido, os cabelos despenteados, cheiro de urina e um sabor de coração sujo.
Tivemos que improvisar um show sem guitarra, num barzinho em frente á funerária. Só com o piano de Marina que se acompanhava todas as noites cantando Sophisticated Lady. Sabe-se lá porque. Marina era estranha. Mas tinha uma voz linda, um timbre aveludado ,às vezes rouco, uma alma de blueseira.
Os participantes dos velórios gostavam dos blues lancinantes, da beleza de Marina ou da bunda de Mimi. O fato é que tínhamos casa cheia todas as noites.
Enquanto Billie aguardava julgamento, cantamos para acompanhantes de defuntos, nós, mais mortos do que eles, em nossos caixões de luzes azuis.
Um dia não agüentei, fui ao delegado e abri meu coração. Falei da estrada empoeirada, dos sanduíches frios, dos clientes sem paciência e sem educação, dos ouvidos duros, dos assentos nos ônibus arrebentados, das noites mal-dormidas, de toda a humilhação… um blues interminável e dolorido.
O Homem entendeu, talvez, não sei. Soltou Billie na sexta-feira, de surpresa.
Ele apareceu no meio da noite. Marina cantava Sophisticated Lady.
Ficou ali, parado, ouvindo – nós no backing vocal, meu coração na boca, morrendo. E a música quase doentia de Marina, linda, longínqua.
Billie apanhou a guitarra e acompanhou. O blues subia pelos seios dela ,tocava os cabelos, dava para sentir o cheiro da paixão. Um gemido de cão abandonado, dolorido, sinuoso. A voz dela acompanhava rouca, estranha, apartada, indecifrável.
Eu olhava para Billie ali, envelhecido, ouvia o lamento da guitarra, a voz dela ecoando e então eu soube que era amor o que sentia.
Esfrangalhado, encardido, esgarçado, roto, amarfanhado, mas amor.
Me suicidei nesta noite com dez tequilas, três dry martinis e cerveja.
Fui enterrada em mim sem choro ou velas.
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junho 29, 2009 Semana Michael Jackson
Em homenagem ao rei do pop, essa semana será dedicada a textos inspirados em seus clipes e músicas. Poemas, contos, crônicas e ensaios: qualquer um está valendo.
Mande o seu para letraevideo@gmail.com
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junho 11, 2009 Summer of ’69 – Bryan Adams (Ana Cristina Rodrigues)
As Canções de Papel Machê
Eu consegui minha primeira guitarra no verão de 1969. Para isso passei um ano inteiro guardando o dinheiro ganho ajudando meu pai na mercearia. Empacotei milhares de dúzias de ovos, ensaquei compras para todas as senhoras de perfume enjoativo da vizinhança, esfreguei o chão até ele ficar brilhando. E valeu a pena.
A primeira semana de férias, passei trancado no meu quarto. Eu e a guitarra. Toquei até meus dedos sangrarem e criarem calos. Quando achei que dava para enganar, dei o passo seguinte: criar uma banda. Eu na guitarra, João, meu melhor amigo, no baixo e a irmã dele na bateria. Judite era mais velha, mas apoiou o projeto desde o início.
Só faltava uma voz. Precisávamos de alguém para cantar, e Dite trouxe Clarice para minha vida. Desde a primeira vez que a vi, no primeiro ensaio sério de nossa banda, seu olhos doces no rosto calmo e o sorriso sereno ficaram marcados na minha memória.
Ali começara a carreira efêmera do “Papel Machê”, nome sugerido pela própria Clarice. Sabia que não duraríamos muito, mesmo assim foram os melhores dias de minha vida. Os bailinhos de sábado do quarteirão eram animados por nós com versões dos grandes sucessos da época. A voz de Clarice adoçava tudo, e viver valia a pena. Toda a tarde, tocávamos na sorveteria do bairro. Nosso pagamento era a banana split especial, que podia ser dividida com folga pelos quatro. E vez por outra, uma festa não renumerada de algum amigo.
Claro, algumas confusões aconteceram. Na festa de aniversário da minha prima, um amigo dela fez um convite para a nossa baterista. Ele não sabia que Mario, o namorado gigantesco da Dite, também estava presente. A briga generalizou-se, João quebrou o nariz e Judite três unhas, mas os instrumentos não sofreram nada.
No fim do verão, demos nosso último show. Dite iria casar-se e depois da confusão, Mario havia se tornado contrário à participação dela na banda. João e eu, ambos fazendo dezoito anos, iamos prestar serviço militar. Depois do final do baile, nos despedimos, prometendo uma reunião da banda em breve. Os dois irmãos foram para casa, enquanto eu acompanhei Clarice, que morava mais perto de mim. Os sentimentos entalados na garganta, por meses a fio, pareciam sentir o fim da estação. Queriam irromper, aproveitar os últimos dias de calor, antes que tudo terminasse.
Não consegui. Andávamos lado a lado, como fizéramos tantas vezes naquele verão. Discutimos sobre tudo o que não era importante. Lembramos os shows, as confusões, as brigas de João e Dite por qualquer bobagem…
Paramos em frente à casa dela e continuamos a conversa, encostados no Porshe da mãe de Clarice.
Ela fitava as estrelas, que pareciam reluzir no seu olhar Evitava virar o rosto para mim enquanto falava. De repente, após um súbito silêncio, ela suspirou e olhou para mim.
– Sabe porque eu sugeri o nome “Papel Maché”?
– Eu nem sei o que é…
– É uma forma de artesanato. Pedacinhos de papel amassados e colados… Sozinha, cada parte é lixo, mas juntas fazem lindos objetos. Como nós…
– A banda?
– Sim, eu queria que esse verão não acabasse nunca… A banda, cantar… A companhia de vocês. Principalmente a sua, Paulo. Você foi importante demais para mim.
O coração bateu, descompassado. Era agora.
– Clarice, eu…
– Meu pai foi transferido para outro estado. Mudamos-nos em uma semana. Passei o verão inteiro querendo não pensar nisso, em tudo o que vou perder. E vocês conseguiram, mesmo que agora eu vá perder ainda mais coisas do que antes…
Beijou-me de leve na boca e foi em direção à casa. Eu fiquei ali, parado, olhando ela se afastar, o coração apertado com tudo o que eu não disse e nunca ia dizer.
Assim terminou o verão de 1969. Cresci, casei, tive filhos e enviuvei. Em cima da mesa do meu escritório, as fotos da minha família. Em um canto especial, um porta-retrato de papel maché, com uma foto dos quatro integrantes do conjunto, tirada antes da última reunião pelo pai dos dois irmãos… Judite me enviara alguns anos depois. Ela atrás, abraçada com João, os dois fazendo careta. No primeiro plano, Clarice e eu, rindo. Nunca mais vi nenhum deles.
Penso que aquele verão poderia ter durado para sempre. Foram os melhores dias da minha vida, os do verão de 1969.
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junho 8, 2009 Sweet about me – Gabriella Cilmi (Marcelo Jacinto Ribeiro
O problema era seu sorriso. Tudo o mais em seu rosto era absolutamente normal, seus suaves olhos castanhos, o modo como suas sobrancelhas subiam e desciam alegremente quando ela fala com sua voz angelical, seu cabelo sedoso e perfumado, até mesmo o lindo narizinho arrebitado, tudo dentro do que se poderia chamar de normal, bela mas não arrebatadora, alguns até diriam comum. Mas quando ela sorri… Oh, Senhor! É magia pura! E em doses potencialmente fatais! Não há nada que você pode fazer, quando ela sorri você vira história, já era! Escravizado para sempre, de livre e espontânea vontade, até a hora em que ela quisesse brincar com você, usar você, acabar com você, ela teria. E sem uma única reclamação, nem uma mísera palavra contra. Apenas pedidos desesperados de mais, mais, mais… Seria todo o conjunto da boca, as pequenas rugas que se formam ao lado dos olhos, o jeito travesso como seus lábios se moviam? O que diabos ela tem naquele sorriso que faz isso comigo, que me deixa de pernas moles, quebra minha vontade, me hipnotiza? Seria isso o tão falado amor?
Mas quem se importa? Ela está aqui, não? E me quer, não quer? E sempre – SEMPRE! – com uma brincadeira nova, com algo novo para ensinar. E são tantas coisas que já aprendi… Já fui amarrado com quilômetros de grossas cordas, preso com fita adesiva ao chão (fiquei parecido com uma múmia, ela disse sorrindo, maldição!), enjaulado como um animal, acorrentado à parede, trancado em uma asfixiante sauna seca, jogado dentro de uma caixa… E ela diz que eu ainda não vi nada! Ah, essa mulher!
Ela está vindo, caminhando – não, flutuando como uma bailarina, suavemente, delicadamente. Hoje vai ser diferente, vou mostrar para ela que não sou seu escravo, não sou seu cachorrinho. Um homem tem que honrar seu nome, sua dignidade! Hoje as regras do jogo vão mudar e ela é que vai aprender alguns truques e brincadeiras novas, com certeza! Agora, parada bem a minha frente, mãos na cintura, olhos faiscantes a me dominar. Essa ansiedade! Então ela sussurra, como uma brisa da primavera:
– Você já viu o mundo de cabeça para baixo, garoto? È tão divertido, você vai gostar, tenho certeza…
E sorri para mim… Ah, dane-se tudo! Estou aqui, querida! Por favor, faça tudo o que quiser, mas não pare, nunca, jamais! Estou pronto, meu amor, vamos brincar, por favor, vamos brincar!
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junho 3, 2009 Street of Dreams – Blackmore’s Night (Ricardo França)
STREET OF DREAMS
Já fomos grandes, você se lembra? E ainda sempre podemos ser se você o quiser. Dormentes caminhos neurais se refazem num intervalo sem tempo quando o real sincronismo acontece.
Quando te conheci não me deste tempo para respirar. Um respiro que era um sopro de vida desatando as presilhas da alma. Mal os abismos de nossos olhos se espelhavam nas nossas lentes percebêramos a impossibilidade de conflito entre nós.
Passávamos fulgurando pela via radioativa, pilotando o trem da gravidade. Nossa mentora nos confiara tanto. O que fizemos pra merecer tanta consideração dela? Éramos apenas mais dois soldados da mídia para todo o resto. Percebia ela, mesmo que de soslaio, na tua arfante expectativa antes de cumprirmos o prometido, e com esse a promessa de sonhos cumpridos?
Você se lembra? Poderia se lembrar ainda de mim? Do como passáramos juntos pelo vau acinzentado do ensimesmamento?
Estávamos então no limiar de tanta coisa importante, não é mesmo? Fatos lançados no trançado do tempo que desembocavam num daqueles nós das eras. Já não tivéramos nossa cota de mergulhos no oceano das possibilidades que nos fizeram voltar gotejantes de fascínio? E, incônscios das consequências, mesmo os nossos mais talentosos colegas não conseguiam perceber aonde os entrechoques levavam ao bilhar dos eventos. Arqueavam os sobrolhos, quando vislumbravam algo das sutis influências disparadas, mas não de forma tão graciosa quanto os teus arcos capilares quando se costumavam emoldurar tua céptica expressão.
Os momentos de transição. Sempre soube você aproveitá-los tão bem, tão melhor que eu. Só precisávamos galvanizar o interesse de todos estudantes ali reunidos, por acaso os melhores no que faziam. Foi mais fácil para você do que para mim. A moda que lançamos estava mais do que enraizada e agora era a oportunidade de criarmos os caminhos novos. As ondas em interferência construtiva das mentes conectadas mas não subordinadas. Só os mais intrépidos poderiam te acompanhar. Outros preparariam a logística e o envultamento das intenções perante o vulgo.
Nossa tampinha-chefe não precisava nem ordenar o próximo passo. Sabíamos bem o que fazer. Quando liberamos a visão dos nossos olhos de arco-íris sobre a audiência, ao descerrarmos as pálpebras não mais ocultas pelas convexas e quase-opacas lentes que usávamos, já há muito eles estavam convencidos pelos harmônicos naturais de tua voz. Voz em ondas que lambiam as fronteiras dos cuidados de defesa do ego. As palavras certeiras para os que não viam sentido algum somente numa simples vida autoperpetuante. E ao mesmo tempo, a imortalidade da eterna expansão prometida aos que não viam graça alguma nas tentativas de auto-superação ou nas agridoces frustrações que as amarras coletivas nos proporcionavam desde a vida unicelular.
Porque você não ficou aqui – conosco – na missão de reconstrução dos cacos dos vasos partidos, das vidas separadas e não unidas, do refazer dos caminhos traçados nos domínios dos sonhos que se sonham juntos? Porque teve você que se dar o luxo do último mergulho na incerteza?
A dissolução da personalidade não deixaria nunca mais as curvas de teu corpo se enrijecerem atrás do vítreo esquife em que teu veículo corpóreo foi depositado. Mas quando você voltaria a afagar os nós de meus dedos de novo com a tepidez única de teu toque? Quando você nos comunicaria, com teu humor sempre borbulhante o que percebera no emaranhamento com as consciências ancoradas em mares não aquosos sob céus de matizes não figurados?
Volte para a vida isolada, eu te peço. Volte para a vida das impossibilidades da separação. Volte para mim, e para “o mim mesmo”, mesmo que este seja agora tenha passado a ser para você só um hábito esquecido de auto-limitação…Eu sinto nas minhas circunvoluções que ainda podemos voltar a ser dois em um e não apenas o sonho de um em muitos.
E, então, vamos explorar o que as nossas limitações têm a oferecer.
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maio 25, 2009 Retomando atividades em 3, 2,1…
Dia 30 de maio será a ressurreição do Letra & Vídeo. Esperem por grandes novidades.;)
Anunciem, divulguem, mandem seus textos.
Sugestões serão benvindas, textos muito mais. Para saber como participar, veja aqui
O L&V é uma iniciativa apoiada pela Fábrica dos Sonhos
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janeiro 18, 2009 Do the evolution – Pearl Jam (Aguinaldo Peres)
É a evolução, Baby!
Na cidade do Fim do Mundo
As altas torres tocam as nuvens
E as luzes de néon brilham intermitentes
Colorindo os céus com brilhantes tons
Vermelhos verdes amarelos azuis
Anunciando maravilhas que não mais existem.
A mulher, berço da humanidade, se lança
Aos pés do homem, senhor do futuro,
Ela pede implora cede oferece
O corpo macio de curvas perfeitas
A alma quente com prazeres núbios
Uma vez mais, pelos que serão.
Em seu castelo de concreto e aço
Ele a afasta rejeita despreza
Orgulhoso de seus poderes
Sobre a natureza e a vida
Só a perfeição o satisfaz
Só o controle total o sacia.
Ele se entrega a sua nova amante
Criada do mais puro metal
Dourada como as portas do Paraíso
Sua criação perfeita
Que caminha respira fala vive
Dons de sua ciência.
A dourada Lililth sorri
E o homem se deixa embriagar
Em seu próprio reflexo distorcido.
A mulher parte em exílio
Carregando as derradeiras palavras:
É a evolução, Baby!
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